quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Silvia Pilz não precisa pedir desculpas

Circula na rede e desperta revolta o texto escrito por Silvia Pilz no qual a autora destila todo o seu “horror à pobre” ao melhor estilo Caco Antibes. A autora recebeu grandes e justas críticas e respondeu com a velha fórmula “era só brincadeirinha”. Oh céus! Quando me deparo com essa justificativa me pergunto se falta à essa gente talento ou coragem. Talento para inventar uma desculpa melhor. Ou coragem para assumir o que escreveu. 

A falta de talento de Pilz é óbvia. Se o texto era para ser “divertidíssimo” a autora falhou miseravelmente. Foi muito, muito sem graça. Impressionante como o humor cafona dos comediantes sem-graça da stand up paulista está se proliferando no Brasil, né? Mas eu até compreendo as pessoas que insistem nessa fórmula, o insulto gera polêmica, a polêmica dá audiência. Pilz certamente ganhou a antipatia de muita gente, mas é igualmente certo que ela ganhou alguns fãs que a tratarão como mais uma mártir do “politicamente correto”. O mundo está vulgar e chato. Norbert Elias mostrou no seu belíssimo livro “A Sociedade de Corte” que a lógica que legitimava a existência da nobreza francesa era que os nobres eram os guardiões do belo, da alta cultura, da inteligência. Nossa Alta Classe Média - a nobreza da contemporaneidade - nem essa lógica preserva. São burros, miseravelmente burros em suas sentenças e desculpas. Burros e covardes. Covardes?   

Ok, concordamos que falta talento à Pilz, tanto se considerarmos o nível do texto dela quanto a desculpa que deu. 

E coragem? Bom, o clichê do “reductio ad humorem” (ou “redução ao humor”) já foi detectado, o que pode ser perfeitamente considerado falta de coragem de dizer logo que ela não gosta de pobre. Falo isso muito seriamente. Ela não tem obrigação de gostar de pobre, eu não tenho obrigação de gostar dela e você não tem obrigação de gostar de necas e muito menos de pitibiribas. Seria mais honesto e corajoso da parte dela simplesmente dizer: eu não gosto de pobre! Pronto, fim. Uns se revoltarão, uns gostarão, uns concordarão, outros xingarão. O efeito seria exatamente o mesmo que ela experimentou, a diferença é que ela seria mais honesta. Honesta com ela mesma, e principalmente, honesta com os leitores. E isso importa, porque ela escreve num grande jornal, tem um espaço de fala privilegiado, ser honesta com os leitores é o mínimo que ela deve fazer para merecer o próprio salário. 


Aí, envolta numa enorme covardia e falta de talento, ela ainda dá uma entrevista dessas na qual afirma que “não precisa se desculpar” já que disse a “verdade”. Verdade, que segundo ela seria o pressuposto de que “os pobres gostam de procriar”. Sim, Pilz, você não precisa se desculpar por não gostar de pobres. Não precisa nem se desculpar por sua covardia e falta de talento. Você não precisa se desculpar pelo o que pensa, mas precisa se responsabilizar pelo o que escreve, pelo o ato de tornar pública sua burrice. Não se desculpe mesmo, se responsabilize. 

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