sábado, 1 de novembro de 2014

As eleições mais piradas das últimas décadas

Depois de um enorme tempo sem escrever para esse espaço retorno depois da ressaca das eleições mais emocionantes que vivi. A trágica reviravolta causada pela morte de Eduardo Campos colocou a política, mas antes de tudo os corações dos brasileiros, numa montanha-russa insana. Gostaria de “palpitar” um pouco sobre esses meses loucos :)


Marina Silva despontou como a grande ameaça à reeleição da Dilma até que sua imagem se desfarelou, penso eu, principalmente depois que ela cometeu um erro inacreditável: se dobrou diante da pressão do pastor aloprado Silas Malafaia. Acho que os nossos representantes ainda não entenderam que a influência eleitoral de gente como o Malafaia é significativa apenas entre os fiéis deles. De fato é importante o suficiente para eleger deputados e vereadores, mas não determinam o resultado de eleições para o poder executivo. Em geral os brasileiros felizmente não aceitam bem a influência religiosa nos cargos executivos, que o diga Marcelo Crivella que nunca conseguiu chegar à prefeitura ou ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Se ele foi ao segundo turno nessas eleições deve mais à rejeição de Garotinho e Pezão do que a qualquer outra coisa. Tanto isso é verdade que em sua campanha Crivella se esforçou por desligar sua imagem da IURD. Marina errou ao não perceber isso e quando mudou seu programa de governo para agradar ao pastor aloprado perdeu um enorme número de eleitores jovens e progressistas que por sinal constituíam o grande eleitorado dela. A perda desses eleitores influenciou também na derrota de Aécio já que Marina não conseguiu transferir os votos desses eleitores para Aécio. É que esses eleitores não são os eleitores clássicos do PSDB que votam acima de tudo para derrotar o PT, são eleitores que não se identificam com discursos de ódio e tampouco com o neoliberalismo, ódio e neoliberalismo esses que mobilizaram os eleitores mais barulhentos do Aécio Neves. Tocamos aqui num ponto sensível dessas eleições.

A ilustração perfeita da fábula " a Lebre e a Tartaruga"
Li em algum lugar, e me desculpo desde já com o(a) autor(a) da análise por não me recordar de seu nome, que o pior inimigo de Aécio nessas eleições foram seus próprios eleitores. Esqueça o engodo da grande mídia que diz que a culpa foi da suposta campanha de difamação promovida pelo PT - como se o PSDB não tivesse feito o mesmo - e pense na enorme quantidade de pessoas que não votaram em Aécio porque se assustaram com os setores que a campanha dele mobilizou! Estou falando, mais uma vez, de gente como Malafaia que manifestou apoio à Aécio, mas também Feliciano, Jair Bolsonaro, militares da reserva saudosos dos tempos da ditadura, racistas, xenófobos, homofóbicos. Muita gente que não votou na Dilma deixou de votar no Aécio por causa dos eleitores do Aécio, isso ajuda a entender a enorme porcentagem de votos nulos e brancos dessas eleições. A campanha de Aécio falhou miseravelmente em não conseguir mostrar que esses setores reacionários não seriam contemplados num eventual governo PSDB. Por mais que eu não simpatize com o PSDB, é óbvio que o partido não se enquadra na categoria de extrema-direita. Eu li, por exemplo, o plano de governo do Aécio voltado para a população LGBT e ele não era tão diferente do plano do PT. A diferença entre o PSDB e o PT não está tanto na forma como os partidos lidam com questões de direitos humanos, na minha avaliação, é mais uma diferença no planejamento das políticas econômicas. O PSDB deveria ter batido mais nessa tecla, não o fizeram provavelmente para não perderem os eleitores conservadores, mas com isso perderam votos importantes que podem ter determinado o resultado das urnas. 

E nesse sentido a campanha do PT foi brilhante. Acho que os marketeiros do PSDB deveriam faz um worshop com a equipe do PT (hehehe). Quando Malafaia mais uma vez teve um dos seus chiliques homofóbicos a campanha da Dilma reagiu imediatamente e a hashtag #MenosOdioMalafaia ficou no topo dos assuntos mais comentados do twitter por horas. Assim a Marina involuntariamente deve ter transferido alguns votos para a Dilma, não duvido que muita gente que desistiu de votar na Marina depois que ela cedeu ao Malafaia nesse momento migrou para o voto no PT. Dilma por exemplo ganhou no Rio de Janeiro, Estado com uma tendência mais progressista em relação ao grosso do eleitorado de São Paulo que é mais conservador, mas não de extrema-direita! Muito embora as oposições mais raivosas contra a vitória de Dilma venham de São Paulo, essa galera não representa o estado. Quantas pessoas foram protestar na Paulista nesse sabadão? 3 mil? 4 mil? O que é isso perto dos milhões que vivem só na capital? Pouco, muito pouco. Os paulistas em sua maioria votaram no Aécio não porque se identificam com a extrema-direita que colou na campanha dele, mas porque se indignaram com as acusações de corrupção contra o PT. Os paulistas votaram para o PT perder. 

Dilma preocupada com os coxinhas
Já o PT está numa posição delicada. Dilma ganhou com muito aperto e vai enfrentar um congresso muito hostil. Mais do que nunca o PT vai precisar do apoio popular e já nas eleições o partido percebeu de onde esse apoio vai vir: das esquerdas. A militância que andava desconfiada com o PT se engajou com tudo nessa campanha diante do crescimento meteórico do Aécio, sem dúvidas o apoio da esquerda foi decisivo para a vitória do PT e ao sacarem isso a campanha assumiu um discurso mais à esquerda. O PT saiu do armário nessas eleições, deixou de ficar em cima do muro em temas importantes, como o combate à homofobia, e trouxe à luz algumas de suas bandeiras históricas que andavam no baú para agradar à base aliada. Devem ter notado que essa base não é tão aliada assim e embora seja importante nos próximos 4 anos por questões de governabilidade pouco influenciou no resultado das urnas. Embora a situação seja difícil para o partido pode ser positiva para o Brasil. Eu sigo a Dilma no facebook e a página dela anda postando coisas muito legais, destaque para a defesa de um novo Marco Regulatório das Comunicações no Brasil e a insistência na importância da Reforma Política. É claro que esses dois temas mexem com interesses de poderosos e sem o amplo apoio popular o PT corre o risco de ter suas propostas empacadas no congresso conservador que foi eleito. Mas foi justamente por essas propostas que as esquerdas se mobilizaram pelo PT… e continuam mobilizadas. Tenho certeza que o PT não vai vacilar agora e vai se esforçar para manter essa mobilização.

Muita coisa mudou nesses últimos meses, tenho cá para mim que essas eleições serão um marco divisório na história do Brasil e minha esperança é que seja para o bem. 

Bom, ainda não disse tudo o que eu quero dizer, mas vou deixar para o próximo capítulo. 

Por enquanto fecho com uma homenagem à “cubanização” do Brasil! (desculpa, não resisti! rsrsrs)



Hasta la vista! 


Euzila no Twitter: @Veromaat

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