quarta-feira, 12 de junho de 2013

Carta ao governador Alckmin e ao prefeito Haddad


Senhor governador, senhor prefeito, espero que estejam usufruindo de uma maravilhosa estadia na cidade de Paris. A cidade é realmente bonita e certamente uma viagem desse porte é muito mais agradável quando os custos são bancados por dinheiro público. Aproveitando o ensejo, já que os senhores estão na Cidade Luz as nossas custas, sugiro que experimentem o serviço de metrô de Paris! Os senhores notarão, talvez maravilhados, o quando o metrô de Paris deixa o de São Paulo no chinelo, com o perdão da expressão pouco acadêmica, por favor! Não deixem de verificar o sistema adotado por Paris para diminuir o fluxo de veículos no centro da cidade! Eu penso que é um bom sistema principalmente porque vem acompanhado de um sólido planejamento na oferta de transporte público, muito diferente do sistema de rodízio adotado em São Paulo sem qualquer cuidado em proporcionar mais oferta de ônibus! Os senhores vão se surpreender positivamente, eu garanto! E espero que aprendam esses bons exemplos e os apliquem na cidade de São Paulo e no Estado de São Paulo também, como não? 

Li as palavras do governador Alckmin amplamente divulgadas na mídia brasileira e um raio de esperança iluminou meu coração! Fico muito feliz por saber que o digníssimo governante está preocupado com o vandalismo e baderna que se espalham pela cidade! Então acredito que ele tomará providências energéticas para acabar com o vandalismo e a baderna que fazem parte do cotidiano dos cidadãos de São Paulo que vivem esmagados em vagões de trem e metrô lotados ou passam suas semanas como sardinhas nos ônibus! Realmente é uma tremenda barbárie desumana conviver com essa oferta de transporte, é ainda mais doloroso pagar caro por isso! O governador bem sabe, e penso que o prefeito também sabe, que ser tratado como gado não faz parte do Estado Democrático de Direito e dos direitos e garantias fundamentais que tal estrutura deve oferecer aos seus cidadãos. Não é governador? Estou certa, Prefeito? 

Estimados representantes do povo, tomo a liberdade de dar algumas sugestões para acabarmos definitivamente com o vandalismo e a baderna, tomem nota, por favor:

1. Bairros afastados do centro e sem metrô abrigam uma população sofrida que conta com pouquíssima oferta de ônibus mesmo tendo que se deslocar para regiões centrais a fim de batalhar pelo pão nosso de cada dia. Um estudo interdisciplinar que contemple engenharia de tráfego, análise cartográfica e estudo dos fluxos de deslocamento diários da população é um bom caminho para distribuir melhor as linhas de ônibus da cidade;

2. Mesmo que pareça estranho para os senhores, as pessoas costumam circular pela cidade até mesmo fora de horário comercial. Não sei se os senhores já ouviram falar disso… talvez não, então pensem nisso e ofereçam transporte público 24h por dia. Assim, a frota não precisa estar toda na rua depois das 23h, mas ao menos uma quantidade razoável de veículos circulando pela cidade em horário regular ajudaria bastante;

3. Eu e muitas outras pessoas adorariam poder se deslocar pela cidade de bicicleta. Os médicos são unânimes em dizer que atividades físicas são saudáveis, parece bastante bacana unir o útil ao agradável e poder ir ao trabalho ou local de estudo usando as boas magrelas. Além disso, como se ouve por ai, uma bike na rua é um carro na garagem! Todavia, eu e muitas outras pessoas tememos muito acabarmos atropelados por ai! É que faltam ciclovias na cidade! Fica difícil disputar espaço nas ruas quando nossos concorrentes são carros dirigidos por motoristas apressados, motos em alta velocidade voando pelos corredores e motoristas de ônibus destreinados. Isso sem falar de caminhoneiros e seus monstros de muitas rodas. É desleal, sabiam? Então que tal construírem mais ciclovias? Parece razoável? 

Olha, se os senhores tomarem essas medidas simples eu talvez nem me incomodaria em pagar mais um pouquinho pelas passagens. É que, assim, quando eu vou à algum restaurante e pago caro por comida ruim, eu tenho a opção de não mais colocar meu pés nesse lugar! Mas com transporte público fica difícil. Gostando ou não gostando, eu tenho que pagar caro para me deslocar. Dá uma raivinha, uma raivinha danada! Eu até tento ficar calminha, vou escutando Bach enquanto sofro de asfixia na Estação da Sé, mas não há Paixão Segundo São Mateus que me ajude quando um suvaco suado está colado na minha orelha…  

Por enquanto é tudo.

Ah, não! Desejo que façam uma excelente viagem de volta para São Paulo! Estaremos esperando de braços abertos, tá bom?

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