sexta-feira, 14 de junho de 2013

Proteja-se do Spray de Pimenta e do Gás Lacrimogênio

A truculência das polícias durante as últimas manifestações contra a decadência da malha do transporte público nas capitais brasileiras prova uma triste realidade: os policiais brasileiros são despreparados e esse despreparo coloca em sérios riscos os cidadãos do Brasil. Frente à ataques gratuitos não podemos nos furtar de usar métodos de defesa. A auto-defesa também é um direito que você e qualquer outro cidadão pode e deve exercer. 

A fim de contribuir com a divulgação de métodos de auto-defesa, compartilho o tutorial para se proteger do spray de pimenta e dos gás lacrimogênio. 


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Os protestos no Rio de Janeiro e São Paulo e as armas "não-letais" usadas pelas polícias



Não há muitas dúvidas que algumas pessoas se excederam e de fato promoveram violência e quebra-quebra durante as manifestações contra o aumento das tarifas do transporte público. Mas é importante destacar que os baderneiros eram a minoria. Quem já participou de manifestações sabe muito bem que não é raro que um punhado de gente apareça com o principal objetivo de entrar em confronto com a polícia, mas sabemos também que essa gente não representa a maioria das pessoas que saem às ruas em manifestações, manifestações estas que são um direito constitucional. Enfim. 

O problema é que quando os baderneiros agem policiais mal treinados atacam. Atiram indiscriminadamente para a multidão e acabam atingindo pessoas que estavam lá pacificamente, e as vezes pessoas que nem estavam nos protestos. Uma vez, no Rio de Janeiro, a Guarda Municipal promoveu o famoso "Rapa" com uma inovação, o spray de pimenta. Para quem não sabe, o "Rapa" é quando as forças policiais atuam para reprimir o comércio de rua ilegal. Na época do prefeito César Maia o "Rapa" era uma constante. Quem trabalhava ou estudava no Centro da cidade recorrentemente testemunhava o "Rapa" vindo com tudo. Era uma verdadeira correria, uma barbárie, o Centro virava uma praça de guerra, lojas fechavam, pessoas corriam desnorteadas e os Guardas vinham como uma tropa de choque baixando o sarrafo em camelôs e em pessoas que estavam só tentando se proteger. Bom, então veio o spray de pimenta. Os Guardas ganharam o "brinquedo" sem treinamento adequado. Quando o usaram em pleno Largo da Carioca lançaram sprays para o alto, sem qualquer critério. Um monte de gente que estava apenas passando sentiu a "delícia" que é essa arma não letal. 

Pois é, Spray de Pimenta é tenso! Eu sei bem, uma vez levei uma "sprayzada" nas fuças durante um protesto que começou pacífico, mas virou uma bagunça quando um rapaz foi preso para desviar as atenções dos manifestantes e permitir que o ilustríssimo César Maia escapasse sem olhar na cara das pessoas que reivindicavam velhas promessas de campanha que o senhor Maia não cumpriu. O Guarda Municipal que me atacou estava numa distância curtíssima e me atingiu diretamente no rosto. Eu não o estava ameaçando, não estava gritando, estava apenas parada olhando para ele. Mesmo que eu quisesse seria difícil ameaçá-lo no alto dos meus 1,59m e desarmada. Nem vou tentar descrever o que senti depois do ataque, mas posso garantir: é terrível! E não sei, realmente não sei, se é correto jogar spray de pimenta à curta distância e diretamente no rosto de uma pessoa. 

Por que estou contando isso? Para dizer que há  protocolos de uso de armas não-letais. Os protocolos são importantes e respeitá-los é crucial para evitar tragédias como aquela que aconteceu com o brasileiro morto na Austrália depois de levar vários tiros de taser. O fato é que não existem "armas não letais", quaisquer dessas armas pode causar danos mortais à suas vítimas e o risco é maior quando há o mau uso desses equipamentos. 

Para escrever esse texto procurei nos sites da PM-SP, Polícia Civil SP, PMERJ e Polícia Civil do Rio de Janeiro os protocolos adotados pelos policiais para o uso dessas armas não letais. Não encontrei nada, ao menos que esteja disponível para a consulta pública. O site da Polícia Federal parece ter alguns desses protocolos, mas não consegui abrir o site! A propósito, tenho tido muitas dificuldades em abrir os sites do Governo Federal.

Bom, embora os protocolos não estejam disponíveis, há coisas que descobri em algumas pesquisas pela internet. Uma delas é que as armas que disparam balas de borracha jamais devem ser miradas acima da linha da cintura. Ou seja, os policiais que usam essas armas devem sempre dispará-las à uma distância mínima de 20 metros e não mirar no abdômen, peito ou rosto. Vejamos se isso é respeitado olhando para duas fotos tiradas nos protestos do Rio de Janeiro e de São Paulo que mostram vítimas das balas de borracha. 
Jovem atingido por bala de borracha nos protestos do Rio de Janeiro

Repórter da Folha de S. Paulo Giuliana Vallone atingida por bala de borracha

Como as fotos provam, as duas vítimas foram atingidas no rosto e próximo aos olhos. Trata-se de uma coincidência ou da prova cabal de que os policiais das duas cidades estão muito mal treinados e não estão aptos a usar esse tipo de armamento? 

Isso tudo pode parecer distante para você. Você pode pensar que esse tipo de coisa só acontece com quem participa de manifestações, mas como eu exemplifiquei no início do post, no Rio de Janeiro já testemunhei gente que não tinha nada a ver com nada e mesmo assim foram vítimas da ação de policiais despreparados. O resumo da ópera é: sim, você pode ser vítima das armas não-letais disparadas por pessoas que não respeitam os critérios mínimos de segurança. E as conseqüências podem ser gravíssimas. No caso da repórter de São Paulo e do jovem do Rio de Janeiro, ambos correm o risco de terem seqüelas nos olhos... vamos torcer para que isso não aconteça e eles se recuperem completamente. 

Por fim, o mínimo que esperamos das autoridades públicas é que elas sejam transparentes em suas ações. Queremos saber: quais são os protocolos para uso de armas não-letais utilizados pelas polícias? Que tipo de treinamento os policiais recebem para usar essas armas? 

Não quero aqui demonizar os policiais. Estes são pessoas mal pagas, mal treinadas e mal equipadas que arriscam suas vidas todos os dias. O despreparo dos policiais potencializa os riscos que eles mesmos correm e ainda colocam cidadãos inocentes em situações de alto risco, como podemos observar no caso da atuação policial durante os protestos contra o aumento das tarifas do transporte público. Finalmente: não se omita! O próximo pode ser você ou alguém que você ama!

Saiba mais:


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Carta ao governador Alckmin e ao prefeito Haddad


Senhor governador, senhor prefeito, espero que estejam usufruindo de uma maravilhosa estadia na cidade de Paris. A cidade é realmente bonita e certamente uma viagem desse porte é muito mais agradável quando os custos são bancados por dinheiro público. Aproveitando o ensejo, já que os senhores estão na Cidade Luz as nossas custas, sugiro que experimentem o serviço de metrô de Paris! Os senhores notarão, talvez maravilhados, o quando o metrô de Paris deixa o de São Paulo no chinelo, com o perdão da expressão pouco acadêmica, por favor! Não deixem de verificar o sistema adotado por Paris para diminuir o fluxo de veículos no centro da cidade! Eu penso que é um bom sistema principalmente porque vem acompanhado de um sólido planejamento na oferta de transporte público, muito diferente do sistema de rodízio adotado em São Paulo sem qualquer cuidado em proporcionar mais oferta de ônibus! Os senhores vão se surpreender positivamente, eu garanto! E espero que aprendam esses bons exemplos e os apliquem na cidade de São Paulo e no Estado de São Paulo também, como não? 

Li as palavras do governador Alckmin amplamente divulgadas na mídia brasileira e um raio de esperança iluminou meu coração! Fico muito feliz por saber que o digníssimo governante está preocupado com o vandalismo e baderna que se espalham pela cidade! Então acredito que ele tomará providências energéticas para acabar com o vandalismo e a baderna que fazem parte do cotidiano dos cidadãos de São Paulo que vivem esmagados em vagões de trem e metrô lotados ou passam suas semanas como sardinhas nos ônibus! Realmente é uma tremenda barbárie desumana conviver com essa oferta de transporte, é ainda mais doloroso pagar caro por isso! O governador bem sabe, e penso que o prefeito também sabe, que ser tratado como gado não faz parte do Estado Democrático de Direito e dos direitos e garantias fundamentais que tal estrutura deve oferecer aos seus cidadãos. Não é governador? Estou certa, Prefeito? 

Estimados representantes do povo, tomo a liberdade de dar algumas sugestões para acabarmos definitivamente com o vandalismo e a baderna, tomem nota, por favor:

1. Bairros afastados do centro e sem metrô abrigam uma população sofrida que conta com pouquíssima oferta de ônibus mesmo tendo que se deslocar para regiões centrais a fim de batalhar pelo pão nosso de cada dia. Um estudo interdisciplinar que contemple engenharia de tráfego, análise cartográfica e estudo dos fluxos de deslocamento diários da população é um bom caminho para distribuir melhor as linhas de ônibus da cidade;

2. Mesmo que pareça estranho para os senhores, as pessoas costumam circular pela cidade até mesmo fora de horário comercial. Não sei se os senhores já ouviram falar disso… talvez não, então pensem nisso e ofereçam transporte público 24h por dia. Assim, a frota não precisa estar toda na rua depois das 23h, mas ao menos uma quantidade razoável de veículos circulando pela cidade em horário regular ajudaria bastante;

3. Eu e muitas outras pessoas adorariam poder se deslocar pela cidade de bicicleta. Os médicos são unânimes em dizer que atividades físicas são saudáveis, parece bastante bacana unir o útil ao agradável e poder ir ao trabalho ou local de estudo usando as boas magrelas. Além disso, como se ouve por ai, uma bike na rua é um carro na garagem! Todavia, eu e muitas outras pessoas tememos muito acabarmos atropelados por ai! É que faltam ciclovias na cidade! Fica difícil disputar espaço nas ruas quando nossos concorrentes são carros dirigidos por motoristas apressados, motos em alta velocidade voando pelos corredores e motoristas de ônibus destreinados. Isso sem falar de caminhoneiros e seus monstros de muitas rodas. É desleal, sabiam? Então que tal construírem mais ciclovias? Parece razoável? 

Olha, se os senhores tomarem essas medidas simples eu talvez nem me incomodaria em pagar mais um pouquinho pelas passagens. É que, assim, quando eu vou à algum restaurante e pago caro por comida ruim, eu tenho a opção de não mais colocar meu pés nesse lugar! Mas com transporte público fica difícil. Gostando ou não gostando, eu tenho que pagar caro para me deslocar. Dá uma raivinha, uma raivinha danada! Eu até tento ficar calminha, vou escutando Bach enquanto sofro de asfixia na Estação da Sé, mas não há Paixão Segundo São Mateus que me ajude quando um suvaco suado está colado na minha orelha…  

Por enquanto é tudo.

Ah, não! Desejo que façam uma excelente viagem de volta para São Paulo! Estaremos esperando de braços abertos, tá bom?